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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A Primavera em Nós

Fernando Martins

"O homem não está na natureza. Ele é da natureza". disse o médico e alquimista suíço Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheinou, mais conhecido como Paracelso, nas primeiras décadas de 1500.
Ter sempre em mente que o ser humano está intimamente ligado à natureza faz parte de uma necessária conscientização. Ao longo da história da humanidade, este alerta sempre foi dado.
No ano de 1854, o então presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, ao fazer uma proposta de compra de terras a uma tribo indígena, recebeu como resposta do chefe dos Seatle, um dos mais belos discursos já feitos sobre a relação do homem com a natureza. Diz o pronunciamento em seu início: "Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa ideia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? Cada pedaço dessa terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as
lembranças do homem vermelho".
Os mortos do homem branco esquecem a sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo , o cavalo , a grande águia, são nossos irmãos.
Os picos rochosos , o sulcos úmidos nas campinas , o calor do corpo do potro, e o homem – todos pertencem à mesma família." (Este texto de tão belo e profundo, passou a compor o programa para o meio ambiente da ONU.)
Esta relação torna-se mais estreita, quando nos voltamos para o oriente, onde podemos ver textos como o milenar I Ching, onde em sua lógica cósmica nos diz que o homem é um microcosmo dentro de um macrocosmo.
A própria dinâmica dos átomos que compõe as células de nosso corpo é um espelho do funcionamento do universo.
Em torno do seu núcleo, giram elétrons, assim como em torno do sol giram os planetas. E é de um gênio da física, Albert Einstein (1879-1955), a seguinte frase: "Um ser humano é uma parte do todo ao qual chamamos de Universo... Ele concebe a si mesmo, às suas ideias e sentimentos como algo separado de todo o resto. É como se fosse uma espécie de ilusão de ótica da sua consciência. Essa ilusão é um tipo de prisão para nós, restringindo- se aos nossos desejos pessoais e reservando nossa afeição a algumas poucas pessoas mais próximas de nós. Nossa tarefa deve ser libertarmo-nos dessa prisão ampliando o nosso círculo de compaixão de maneira a abranger todas as criaturas vivas e toda a natureza em sua beleza." Não é por outro motivo, que o homem identifica nos eventos da natureza, características que encontra em seu próprio comportamento. Assim o faz, por exemplo, com a mais simbólica de todas as estações: a primavera. Mais do que um evento astronômico chamado de equinócio, quando o dia e a noite se igualam na duração, a primavera é uma representação da alegria, das cores, uma celebração da explosão da vida.
Nos diz a filosofia Taoista, que tudo no universo se processa em movimentos de expansão, inércia e
retração. A primavera seria este movimento de expansão da natureza. As sementes lançadas ao solo através do amadurecimento dos frutos no outono (retração), germinam na quietude do inverno (inércia) e explodem em cores vivas na primavera.
Vemos este processo também em nosso dia a dia, a cada novo passo a ser dado na vida, quando nos concentramos para planejar (retração) para decidirmos o melhor procedimento (ação - expansão) a ser feito.
Uma estação que afeta nosso comportamento por termos nós mesmo projetados nela, sentimentos de alegria e celebração da vida.
A celebração da primavera no oriente Neste período, várias celebrações ocorrem em vários pontos do mundo, resgatando a eterna relação entre o homem e a natureza. As festividades mais marcantes são em culturas milenares como a japonesa e a chinesa.
No Japão, é a estação mais popular do país. A primavera é recebida em festa. Época de "Hanami" que
significa "ver o florescer". Originariamente surgida na era Heian (794/1185), o Hanami era uma festividade restrita à aristocracia. Sua popularização se deu durante a era Edo (1688/1704), quando as pessoas se reuniam sob as cerejeiras para comer, beber e dançar.
Uma celebração importante, em uma época dominada pelos Shoguns, senhores feudais, onde a liberdade de comportamento para a população era bastante restrita.
O Sakura Matsuri, a comemoração das cerejeiras é celebrada em todo o território japonês. A cerejeira é uma planta adorada pelo povo japonês por ser símbolo da felicidade. Contam, que os antigos samurais, ao morrer num campo de batalha, eram cobertos por pétalas de cerejeira, o que fazia seu espírito se encher de orgulho.
O sakura (cerejeira) é o símbolo nacional, pois para os japoneses, sua forma e cor refletem os ideais mais puros e simples do ser humano. Praticamente todos os arranjos florais japoneses (ikebana) contem flores, botões e ramos de cerejeira.
Na China, temos a celebração do ano novo chinês, o Festival da Primavera. O nome do Festival faz
referência ao ano novo lunar que se inicia na primavera, diferente do ano novo ocidental. O calendário gregoriano foi oficializado apenas em 1912, na fundação da República da China e o nome permaneceu
para diferenciar as duas passagens de ano. Uma noite onde as famílias se reúnem em jantares, distribuem dinheiro da sorte às crianças e esperam o amanhecer do dia acordados para dar boas vindas ao novo ano que chega. Rituais em homenagem aos antepassados também são realizados nos templos. Nesta noite, por ser a primeira lua cheia do ano chinês, são feitos os bolos de lua, com forma
arredondada e que representam a unidade familiar.
Aqui no Brasil, a primavera é uma das estações preferidas. Está associada ao romance, ao amor. Um
período bom para iniciar-se namoros. Celebrações oficiais de caráter religioso não ocorrem
neste período por aqui. O equinócio de primavera está associado à celebração cristã da Páscoa, sendo que o equinócio de primavera ocorre no mês de março no hemisfério norte, onde se originaram os festejos cristãos. Sendo assim, a celebração da ressurreição de Cristo foi desassociada do equinócio e tornou-se data fixa do mês de março, tanto no hemisfério norte quanto no hemisfério sul.
Mesmo assim, podemos ver por aqui, celebrações sendo feitas por grupos esotéricos das mais diversas linhas, como os rituais de Ostara, celebrados pelos praticantes do neopaganismo em um ritual de linda alegoria. Talvez uma bela forma de celebrar a espiritualidade interagindo juntamente com a inseparável natureza da qual somos parte mas insistimos em nos afastar. Isto sem pensar naqueles que a destroem visando apenas lucros financeiros.
Mas enfim... é primavera. E como diz Beto Guedes: "quando entrar setembro, a boa nova é andar nos
campos". Caminhemos então entre o verde e as coloridas flores não nos sentindo intrusos, mas sim, relembrando Paracelso, como um elemento que faz parte deste belo quadro. Para isto, basta que despertemos a primavera em nossos espíritos.

Bela estação das flores, bela Ostara que se anuncia.

Fecha o pano.

- * -

Mito

Está chegando a nova estação, lembro-me do que para mim é o mais belo mito que explica o evento da primavera, o mito grego de Deméter e Perséfone.

Nos primórdios, Gaia, a Deusa Terra gerou Urano e este casou com a própria mãe com quem teve vários filhos. O problema é que Urano odiava os filhos e este ódio gerou uma revolta que fez com que Cronos, o Deus do Tempo, o filho mais novo de Urano, cortasse os testículos do pai para que este não mais fecundasse Gaia (da espuma de sêmen do testículo de Urano caído no mar que nasceu Afrodite, a deusa do amor).

Urano então lançou uma espécie de praga dizendo que Cronos sofreria o mesmo que Urano sofreu. E não deu outra, por conta da mania de Cronos comer todos os filhos que nasciam de sua relação com Réia, esta resolveu parir em segredo e assim nasceu Zeus, que mais tarde viria a fazer o pai Cronos tomar uma bebida que o faria vomitar todos os filhos já devorados, incluindo aí Hades e Poseidon. Estes dois, juntos com Zeus, após a luta contra o pai Cronos, viriam a dividir o mundo, ficando Poseidon (mais conhecido como Netuno romano) com o mar e a terra, Hades com os subterrâneos e Zeus com os céus e ocupando o Olimpo, lugar de onde Zeus e seus irmãos lutaram contra Cronos.

Além destes tres irmãos, outros filhos de Cronos tornaram-se deuses importantes, como Deméter, a deusa mãe, a deusa da fertilidade. Era ela responsável pela fertilidade da terra e consequentemente, a alimentação da humanidade. Deméter teve uma filha com Zeus, Core, que certo dia, passeando pelos prados, chamou a atenção de Hades, seu tio e que encantado com a jovem, resolveu raptá-la para fazer dela sua esposa. Helio, o deus sol que tudo vê, percebe e vai até Deméter contar o que ocorreu.

Deméter vai falar com Zeus, irmão de Hades e pai de Core sobre o ocorrido e este faz que não é com ele, daí que Deméter entristecida, simplesmente abandona seu destino de semear e fertilizar a terra para vagar pelo mundo tal qual uma mendiga. Sem o poder de Deméter, a terra fica estéril, o solo não dá mais frutos e Zeus se desespera pois, e somente os gregos para terem esta interpretação no próprio mito, se a terra tornar-se eternamente estéril, os humanos morreriam e morrendo os humanos, morreriam os deuses.

Daí que Zeus vai até Hades, negociar a liberdade de Core mas esta, já havia comido as sementes de romã oferecidas por Hades, sementes estas que tinham o poder de fazer Core se apaixonar por Hades e tornar-se Perséfone, que reinaria com o esposo Hades nos subterrâneos. Sem saída, Zeus tenta e acaba conseguindo um acordo com Hades, durante um período no ano, Perséfone voltaria a superfície para ficar ao lado da mãe e no outro, desceria para ficar ao lado de Hades.

Aceito o acordo, nasceu a primavera, que é exatamente o período em que Perséfone volta do reino dos subterrâneos para ficar ao lado da mãe e a deusa Deméter, enche o mundo de flores para celebrar sua felicidade. E assim segue o verão até o outono, quando após os frutos, o inverno chega e que é o período que Perséfone desce ao mundo subterrâneo para ficar ao lado do marido Hades.

Um belo mito cheio de significados e passível de várias interpretações com análise arquetípica de cada um dos deuses envolvidos. Para mim sem dúvida, um dos mais belos mitos gregos.

Paz, Luz e bela Primavera. Um belo período de Ostara.

Fernando Martins

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