Por J.& S. Farrar
Os dois Equinócios são, como já ressaltamos, tempos de equilíbrio.
Dia e noite estão equalizados, e a maré do ano flui regularmente.
Mas enquanto o Equinócio da Primavera manifesta o equilíbrio de um atleta pronto para ação, o tema do Equinócio de Outono é o do descanso após o trabalho. O Sol está prestes à ingressar no signo de Libra, a Balança. Nas Estações da Deusa, o Equinócio da Primavera representa Iniciação; o Equinócio de Outono, Repouso. A safra foi colhida, ambos grão e fruto, mesmo que o Sol – embora mais suave e menos intenso do que era – ainda está conosco. Com aptidão simbólica, ainda há uma semana a seguir antes de Michaelmas, o festival de Michael/Lúcifer, Arcanjo do Fogo e da Luz, ao qual
devemos começar à dizer au revoir ao seu esplendor.
Doreen Valiente (Um ABC do Witchcraft, pág.166) ressalta que as aparências espectrais mais frequentes de certas assombrações recorrentes estão em Março e Setembro, "os meses dos Equinócios – períodos bem conhecidos para os ocultistas como sendo tempos de stress psíquico". Isto pareceria contradizer a ideia de os Equinócios serem tempos de equilíbrio; embora o paradoxo seja apenas aparente. Tempos de equilíbrio, de atividade suspensa, são por sua natureza as ocasiões quando o véu entre o visível e o invisível é diáfano. Estas são também as estações quando os seres humanos `mudam a marcha' para uma fase diferente, e portanto tempos de turbulência tanto psicológica quanto psíquica. Esta é toda a maior razão para nós reconhecermos e compreendermos o significado daquelas fases naturais, de forma que sua turbulência nos animem ao invés de nos angustiar.Se observarmos o Calendário da Árvore que Robert Graves mostrou para sustentar tanto do nosso simbolismo mágico e poético Ocidental, nós descobriremos que o Equinócio de Outono vem um pouquinho antes do fim do mês do Vinho e do começo do mês da Hera.
Vinho e Hera são as únicas das árvores-mês que crescem espiraladas – e a espiral (especialmente a espiral dupla, enrolar e desenrolar) é um símbolo universal de reencarnação. E o pássaro do Equinócio de Outono é o Cisne, outro símbolo da imortalidade da alma – tal como é o ganso selvagem, cuja variedade doméstica é o tradicional prato de Michaelmas. Incidentalmente, a amora é um substituto frequente para o Vinho no simbolismo dos países do norte. A tradição popular em muitos lugares, particularmente no Oeste da Inglaterra, insiste que as amoras não devem ser comidas após o fim de Setembro (que também é o fim do mês do Vinho) porque elas então se tornam propriedade do Demônio. Poderíamos adivinhar que isso significa: "Não tente se
agarrar à espiral entrante uma vez que ela acabou – olhe adiante para o que se projeta"? (1)
Lughnasadh marcou a verdadeira colheita da safra de grãos, mas em seu aspecto sacrificial; o Equinócio de Outono marca a conclusão da colheita, e ação de graças por abundância, com ênfase no retorno futuro daquela abundância. Este Equinócio era a ocasião dos Mistérios Eleusinos, os maiores mistérios da antiga Grécia; e embora todos os detalhes não sejam conhecidos (os iniciados guardaram bem os segredos), os rituais de Eleusis certamente se basearam no simbolismo da colheita do milho. É dito que o clímax tem sido o de mostrar ao iniciado uma simples espiga de grãos, com a advertência: "Em silêncio é recebida a semente da sabedoria".
Para o nosso próprio Sabá de Outono, então, nós tomamos os seguintes temas inter-relacionados: a conclusão da colheita, uma saudação ao poder decrescente do Sol; e um reconhecimento de que Sol e colheita, e também homens e mulheres, compartilham o ritmo universal de renascimento e reencarnação. Como diz a declamação no Livro das
Sombras: "Portanto os Sábios não choram, mas regozijam".
No ritual do Livro das Sombras para este festival, os únicos itens substanciais são a declamação da Suma Sacerdotisa "Adeus, Oh Sol..."
e o Jogo da Vela, ambos os quais nós preservamos.
Preparação
Sobre o altar está um prato contendo uma única espiga de trigo ou outro cereal colhido, coberto por um pano. O altar e o Círculos estão decorados com pinhos em cone, grãos, [um tipo de] nozes de carvalho, papoulas vermelhas (símbolo da Deusa do Milho Demeter) e outras flores, frutos e folhas de outono.
Ritual
Após a Runa das Feiticeiras, o coven se arruma ao redor do perímetro do Círculo, olhando para dentro. A Donzela pega o prato coberto do altar, coloca-o no centro do Círculo (deixando-o coberto) e retorna ao seu lugar. A Suma Sacerdotisa diz: "Agora é o tempo do equilíbrio, quando Dia e Noite se confrontam um com o outro como iguais. Porém nesta estação a Noite está crescendo e o Dia está minguando; pois nada permanece sempre sem mudança, nas marés da Terra e do Céu. Sabei e lembrai, que tudo aquilo que cresce deve também decrescer, e tudo aquilo que decresce deve também crescer. Em recordação do que, dancemos a Dança do Partir e Retornar!"
Com a Suma Sacerdotisa e o Sumo Sacerdote conduzindo, o coven dança lentamente widdershins (anti-horário), de mãos dadas mas não fechando o anel cabeça-à-cauda. Gradualmente a Suma Sacerdotisa conduz para dentro em uma espiral até que o coven esteja próximo ao centro. Quando ela estiver pronta, a Suma Sacerdotisa para e instrui
a todos para se sentarem formando um anel apertado próximo ao prato coberto,olhando para dentro.
A Suma Sacerdotisa diz: "Contemplai o mistério: em silêncio é recebida a semente da
sabedoria".
Ela então retira o pano do prato, revelando a espiga de grãos. Todos contemplam a espiga de grãos por um momento em silêncio.
Quando ela estiver pronta, a Suma Sacerdotisa se levanta e vai para a vela do Leste. O Sumo Sacerdote se levanta e vai para a vela do Oeste e um olha para o outro por entre o coven sentado. A Suma Sacerdotisa declama: (2) Na Irlanda, ao invés de "para a
Terra da Juventude", nós dizemos "to Tír na nÓg" (pronunciado `teer nuh noge') que significa literalmente a mesma coisa mas tem poderosas associações legendárias – um Elíseo celta visualizado como uma ilha mágica fora da Costa Oeste da Irlanda, "onde a felicidade pode ser obtida por um penny (divisão de moeda – N.do T.)"
"Adeus, Oh Sol, Luz que sempre retorna,
O Deus oculto, que ainda assim sempre permanece.
Ele agora parte para a Terra da Juventude
Através dos Portais da Morte
Para habitar entronado, o juiz dos Deuses e homens,
O líder cornudo das hostes do ar.
Porém, como ele permanece invisível fora do Círculo,
Assim ele reside dentro da semente secreta –
A semente do grão recém colhido, a semente da carne;
Escondida na terra, a maravilhosa semente das estrelas.
Nele está a Vida, e a Vida é a Luz do homem,
Aquilo que nunca nasceu,e nunca morre.
Portanto os Sábios não choram, mas regozijam."
A Suma Sacerdotisa ergue ambas as mãos para o alto em bênção para o Sumo Sacerdote, o qual responde com o mesmo gesto.
Suma Sacerdotisa e Sumo Sacerdote reúnem-se ao coven (que agora fica de pé) e o lidera em uma dança lenta deosil (horário), gradualmente formando espiral para fora na direção do perímetro do Círculo.
Quando ela julgar que o movimento da espiral foi suficientemente enfatizado, a Suma Sacerdotisa fecha o anel pegando a mão da última witch da corrente e acelera o passo até que o coven esteja circulando rápido e alegremente. Após um momento ela grita "Para baixo!" e todos sentam.A Donzela repõe o prato com a espiga de grão sobre o altar, e o pano que o cobria ao lado do altar.
O Grande Rito é agora encenado, seguido por vinho e bolos.
Após o vinho e os bolos é a hora do Jogo da Vela, tal como descrito na página 71 para o Imbolg; e aquilo deve levar a pessoa ao correto estado de ânimo para a etapa da festa.
(1) Na Irlanda, por outro lado, o último dia para colher amoras é a Véspera de Samhain. Após aquilo, o Pooka (vide página 122) "cospe nelas", eis aqui um de seus nomes – Púca na sméar, `o duende da amora'.
(2) Escrito por Doreen Valiente.
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